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GARBOLE
Vinícola
A história da Garbole é um manifesto de criação, não de herança. Fundada em 1994 pelos irmãos Filippo e Ettore Finetto, a vinícola nasceu da ambição de dois “forasteiros e autodidatas” que abandonaram suas vidas anteriores para se dedicarem a um “sonho louco”: criar vinhos de forma única. Essa identidade de “outsider”, livre das amarras da tradição de Valpolicella, tornou-se a fonte de sua liberdade e força criativa.
A jornada começou de forma humilde, com a primeira safra de 2001 sendo vinificada no galpão da casa da avó, um testemunho da pureza de sua paixão. A vinícola está localizada em Tregnago, no coração da Val d’Illasi, a leste da zona Clássica. Recentemente, a Garbole estabeleceu um novo ponto de venda em sua sede em San Zeno di Colognola ai Colli, onde as visitas e degustações são realizadas estritamente com hora marcada para garantir uma experiência íntima e exclusiva.
Filosofia
Na Garbole, o vinho é a materialização de uma filosofia profunda, guiada pelo lema: “pessoas antes do vinho, valor antes do preço e vinho antes do rótulo”. A premissa central é que “o vinho não é um fim em si mesmo, mas uma consequência”. A viticultura é vista como um “campo de formação para o aprimoramento pessoal”, onde cada etapa do processo é um ritual de desenvolvimento. Cada garrafa é um meio de expressão que carrega a alma de seus criadores, com o objetivo de “unir pessoas e recuperar identidades”.
Essa filosofia atrai um consumidor que busca significado e autenticidade, que não compra apenas um vinho, mas se conecta a uma visão de mundo. A identidade é reforçada pelo “Fator H”: todos os nomes dos vinhos (Heletto, Hatteso, Hestremo, Hurlo) começam com a letra ‘H’. Isso simboliza a unidade familiar e, por ser uma letra silenciosa em italiano, é um convite para experimentar o vinho de forma puramente sensorial e emocional, para além da análise técnica.
O protagonista climático da região é, sem dúvida, o Lago de Garda. Sua vasta massa de água atua como um termorregulador, criando um microclima quase mediterrâneo em suas margens. Essa influência é vital para as denominações que o cercam, como Bardolino DOC (e sua versão superior, Bardolino Superiore DOCG), Lugana DOC e Custoza DOC, mitigando os extremos de temperatura e permitindo que as uvas atinjam a perfeição. Nos vales da Valpolicella, a combinação da proteção alpina com a ventilação constante é crucial não apenas para as vinhas, mas também para o processo de secagem das uvas que virão a ser os grandes vinhos da região.
Produção
A produção da Garbole é uma busca pela expressão máxima da videira, combinando um terroir singular com técnicas meticulosas e uma estratégia de portfólio deliberada.
Terroir e Viticultura:
Solo: As vinhas estão plantadas em um mosaico de solos de origem vulcânica e calcária. Os solos vulcânicos conferem intensidade e estrutura, enquanto os calcários contribuem com elegância e complexidade aromática.
Appassimento: A técnica de secagem das uvas é um pilar para todos os vinhos da casa, não apenas para o Amarone e o Recioto. A duração do processo varia para cada rótulo, concentrando açúcares, taninos e a alma de cada cacho.
Práticas na Vinha: A viticultura é obsessiva, com “seleções maníacas na vinha” e “rendimentos baixíssimos” para garantir a perfeição da matéria-prima. A colheita é manual, e as uvas que não atingem o padrão de excelência são devolvidas à terra como adubo.
Vinhos Produzidos:
Heletto (Rosso Veneto IGT): Embora seja o vinho de entrada, seu processo com appassimento (20–30 dias) e longo envelhecimento (3 a 5 anos em carvalho) o eleva à categoria de um “pequeno Amarone”. É potente e encorpado, com aromas de compota de ameixa, cereja, menta e chocolate.
Hatteso (Amarone della Valpolicella DOCG Riserva): Considerado o “rei dos vinhos tintos do Vêneto”, é produzido apenas em safras excelentes. Passa por um
appassimento de 90 a 100 dias e envelhece de 3 a 6 anos em barricas novas de carvalho. É um vinho de poder imponente, textura aveludada e aromas complexos de ameixa, figos secos e cacau, sendo também um “vinho de meditação”.
Hestremo (Recioto della Valpolicella DOCG): Um vinho doce que é um elo com a história, sendo um tributo ao Recioto, o progenitor do Amarone. Possui o
appassimento mais longo da vinícola (120 a 150 dias) e envelhece por no mínimo 36 meses em carvalho. É denso e elegante, com a doçura perfeitamente equilibrada pela acidez e notas de amoras esmagadas e violetas. Ideal para ser apreciado sozinho ou com sobremesas de chocolate amargo e queijos azuis.
Hurlo (Rosso Veneto IGT): A expressão máxima da filosofia Garbole, um “meta-amarone” que transcende classificações. É feito a partir da recuperação de uvas nativas quase extintas (Saccola, Pontedarola, Negrara) e uma “uva secreta”. Após um
appassimento de três meses, envelhece no mínimo 5 anos em carvalho novo. A produção é limitadíssima, com cerca de 1.500 garrafas por safra. Nomeado “o melhor vinho tinto da Itália em 2019”, o Hurlo é descrito como incrivelmente macio apesar de sua imensa concentração, com um turbilhão de aromas de cereja doce, alcaçuz e chocolate. É um vinho de contemplação, para ser apreciado por si só.
